quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

O Lugar de Origem

A vila de Montandon está situada no departamento de Doubs, na borda da planície que domina St. Hippolyte em direção ao sudeste. O Mais antigo documento que faz menção a esta localidade é um ato de 1136 no qual Humbert, arcebispo de Besançon e Aldabéron, bispo de Bâle, confirmam a fundação da abadia de Lucelle e as doações recebidas por esta. Segundo Trouillat e Vautrey "Burchard, irmão de Henri dAsuel, havia feito uma doação de suas possessões a um convento para o domínio dos bispos Bertolfe e Aldabéron (de Bâle).... Além disso, Hugues (Huzo) e sua mulher Pétronille... concederam todos os seus direitos de possessão territorial a Montandon (Muntaun) para os cuidados do bispo Bertolf. Da mesma forma, Guillaume e Henri de Granges deram um quarto de sua terra de Montandon... etc.
Em 18 de março de 1139, uma bula do Papa Inocent II confirma a Christianus padre da igreja de Santa Maria de Lucelle e a seus sucessores, a fundação da abadia e as suas possessões futuras a saber: Lucelle, Charmoille, Montandon, Monseveleir (Curiam de Calmilis, de Muntaun, de Munchewilare), os dízimos, etc.
A fundação de Muntaum ou Muntaun se perdia então "na noite dos tempos". Em relação a sua etimologia, pode-se observar que, no alemão arcaico e depois no séc. IX, o vocábulo Munt significa refúgio. Além disso, pode-se ler no grande dicionário geográfico da França, no antigo Montandon, que existiria perto desta vila "A caverna de Fondereau, servindo de refúgio nas guerras do séc. XVIII. Enfin, a localidade que nos ocupa está situada em uma planície, longe dos grandes centros de comunicação. Estes motivos seriam suficientes para que se pudesse admitir Montandon como um desses refúgios, criados um pouco em cada lugar nesta época repleta de insegurança e de agitação que foi a Idade Média.
Indicações mais precisas do que as que pudemos fornecer neste instante a respeito de nosso local de origem nos seriam de extrema valia, até mesmo para elucidarmos a éoca, em dez a vinte anos aproximadamente, em que o nome Muntaun foi trocado por Montandon.
Através de um ato datado de 1326 mencionando a vila de Montandon (escrito Montandom e não Muntaun), Jean dArberg, senhor de Valangin, concede a Henriet de Montandon diversos terrenos, dentre os quais um domínio intitulado La Courbatiére. Este documento é muito importante e não pode ser negada aqui a sua reprodução completa.
Ele começa assim:
"Nós, Jeheans de Arbergh, viemos informar a todos que verão e terão estas presentes cartas por nós cedidas e entregues sob a responsabilidade de Henriet de Montandom esposo, a sua filha Nicholier Bouet, nossos albergistas, e as seus herdeiros uma parte de terra arável no território de Chapelet até o domínio de Perrenele em regime perpátuo."
Encontrava-se em uma época em que os senhores de Valangin procuravam ocupar suas montanhas incultivadas com o maior número possível de colonos. Eles acolhiam ou hospedavam tais estranhos que passaram a ser chamados de hóspedes. Nas linhas acima escritas, o albergista Henriet parece ter chegado na vila de Montandon há pouco tempo. De fato, não apenas seu local de origem é indicado, mas para que se tenha uma idéia do que será tratado, o nome de sua esposa é mencionado, nome este de uma família provavelmente já instalada nas referidas montanhas.
O documento prosegue mostrando que o albergista Henriet obtivera uma terra arável à Chapelet e uma pradaria um Courbatière, tudo isto contra o pagamento anual de umimposto na base de oito sous (antiga moeda francesa). Em contrapartida ele teria o direito de desbravar as florestas (Noire Jour) e de expandir o seu domínio mediante o censo das quatro últimas possessões para cada área transformada em pradaria ou em outros tipos de terreno.
A última parte do ato é a seguinte:
"... este testemunho subscreve-se nas presentes cartas feitas e cedidas neste domínio de Valengin na quinta após o domingo onde celebra-se o ano de nosso senhor, em 8 de março de 1326".
O ato não trata de um ancestral da familia Montandon. No entanto é provável que este Henriet descenda da família Henriet, familia esta que se instalaria um ou dois séculos mais tarde em Val-de-Ruz e em Neuchâtel. Com tuso isto, porém, este documento confirmaria irrefutavelmente uma grande corrente imigratória, iniciada no início do séc. XIV entre a Franche-Comté e o domínio de Valegin. Se um certo Henriet deixou Montandon para morar em Courbatière, é possivel que um outro indivíduo, vindo de um outro vilarejo, tenha sido o iniciador da descendência da familia Montandon: ele teria se fixado no território de Locle e teria transmitido para a sua posteridade o nome de seu local de origem. Na Idade Média quase não se usavam os prenomes. Nestes se ajuntavam, de maneira cíclica, ora alcunhas, ora o prenome do pai, ora o sobrenome da mãe, ora o nome de certas localidades ou da cidade. Então não se teria nenhuma dúvida que o nome da família Montandon se colocava na última das categorias acima mencionadas e que o local de origem da descendência da familia seria a vila de mesmo nome.
Celestin Nicolet, que foi o presidente da sociedade cantonal de História, escreveria em 1869, mencionando o desbravamento das montanhas locloises: É bem provável que a maioria dos colonos tenham vindo da Franche-Comté... Diversas localidades desta provincia nos deram as famílias Sandol, Matthey, Montandon e Huguenin. Montandon originaria a família Henriet e Damprichard a família Leschot."
Deve-se lembrar neste instante uma lenda na qual a vila de Locle teria sido fundada por um Montandon, um Huguein, um Matthey e um Sandoz. Se tomarmos por base o livro "Itinerário das Montanhas Neuchateloises" (pág. 73). as quatro famílias em questão teriam vindo de Bourgognes alguns anos após o estabelecimento de Jehan Droz, de Corcelles em Locle (1303), e mais ou menos na mesma época em que uma colônia e Vaudois vieram instalar-se na Vallée de la Sagne, por volta de 1310.
Esta última data - aproximativa, é bom frisar - encaixa-se perfeitamente com o ato de 1326, e assim não haveria a diferença de doze a quinze anos, talves até menos, entre a chegada de um Montandon em Locle e de um Henriet em Courbatière, estes dois indivíduos vindos de uma mesma localidade.
Este texto foi copiado do livro:
""Os Montandon de Minas Gerais""
de José Dagualberto Borges

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