quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

A Lenda

"Como cada nação, cada família tem as suas lendas, mais ou menos interessantes, mais ou menos verídicas, porém sempre capazes de prender por alguns instantes a atenção, antes de ceder suas narrativas para a história, ou seja, para a relação e a discussão de acontecimentos inscritos nos documentos autênticos.

Segundo a tradição, os Montandon descenderiam dos Albigeois. Estes últimos haviam se refugiado nos altos montes do Jura na primeira metade do séc. XIII. Cedemos neste momento a palavra para ML G. Montandon, de Bruxelas.

A famosa guerra dos Albigeois havia revolucionado todo o sul da França. Quando os Albigeois foram definitivamente derrotados, uma repressão implacável lançou o terror em toda a região onde os confrontos haviam adquirido razoável amplitude.

Isto resultou no êxodo dos habitantes. Sentindo-se expostos, eles se dirigiram para as regiões menos povoadas, onde se podia encontrar uma maior segurança.

A mesma situação ocorrera anteriormente quando os Sarrasins, expulsos da Espanha e ameaçados no Languedoc, refugiaram-se em grande número ao Sul e vieram instalar-se definitivamente em Dombes, onde seus descendentes, misturados à população, vivem ainda, conservando seus inconfundíveis nomes de origem árabe.

Os Albigeois seguiram o mesmo caminho. Eles provavelmente seguiram a rota do Rhône, na qual já se encontravam em um número razoável, já que parte dos acontecimentos ocorrera em Avignon.

Estando sempre à procura de um refúgio seguro, eles chegaram aos montes de Jura que, neste momento, deviam estar quase inabitados. Lá eles fixaram residência e criaram as primeiras vilas.

Foi nestes montes que nossos ancestrais, encontrando enfim o tão sonhado repouso após este século de combates e massacres, estabeleceram-se na vila de Montandon, perto de Maiche, próxima de St. Hippolyte.

A verossimilhança desta tradição prende-se ao fato de que algumas famílias neuchâteloises se atribuem a mesma origem, análoga à história dos Montandon. Os Huguenin, para citar apenas um exemplo, descenderiam de um discípulo de Pierre Valdo. Eles teriam primeiramente habitado no Sul, provavelmente Montauban, depois teriam ido refugiar-se em Genebra e, finalmente, no domínio de Valagin. Estes acontecimentos teriam, sem dúvida nenhuma, sido produzidos no fim do séc. XII, as doutrinas de Valdo tendo sido condenadas pelo concílio de Verona em 1184.

De qualquer maneira, lembremo-nos que Béziers fora pilhada em 1209 e que a guerra durara até 1215. Dataria desta época, então, o êxodo de nossos ancestrais. De qualquer modo, estes últimos não teriam gerado uma descendência duradoura na vila de Montandon, um século no total porque, como iremos observar mais adiante, seus descendentes iriam estabelecer-se definitivamente nas terras do Senhor de Valangin no início do séc. XIV.

As tradições necessariamente nos conduzem às hipóteses. Em que proporções poderiam se justificar suas verossimilhanças? Quais seriam as suas verdades? Haveria fatos que pudessem sustentá-las ou ao menos isentá-las de uma possível imprecisão?

Primeiramente é necessário observar que segundo os atos do séc. XII o nome de origem de Montandon era Muntaun ou Muntaum. Porém, Muntaun, como consonante, certamente pertence a língua dOil, enquanto o nome de Montandon tem muitas afinidades com o repertório geográfico do Languedoc. Esta afinidade é percebida de fato nesta antiga província e, de um modo geral, no sul da França, Montauban, Montaud, Montaudran, Le Puy de Montaudou, Montardon, Montans em Albigeois, etc.

Por que então Muntaun foi substituído por Montandon? Se uma importante colônia de habitantes do sul da França veio fixar-se nesta vila, é possível que os migrantes tenham alterado o nome de Muntaun para Montandon, e que a última nomenclatura, próxima às sonoridades meridionais, tenha prevalecido ao longo dos anos. Esta informação é dada pelo seu provável valor, porém é bem curioso constatar que a localidade em questão se intitularia Muntaun no séc VII e Montandon no séc. XIV, e que o êxodo dos Albigeois para o dito local ocorreria segundo a tradição precisamente em sua época intermediária, ou seja, no séc. XIII.

Para terminar, deve-se atentar para a exitência, na Idade Média, de uma comunidade religiosa de Montaudon, em Auvergne, tendo esta sido ofertada a um monge da abadia de dOrac, cujo verdadeiro nome se perdeu. O padre responsável por esta comunidade, que parecia preferir os banquetes pricipescos e os doces cantos de amor às preces, se fez trovador conhecido pelo nome de Monge de Montaudon. Ele viveu no fim do séc. XII e a hipotética época de sua morte parece estar no começo do século seguinte, ou seja, no período em que ocorria a guerra dos Albigeois. Foi nesta época também que teria acontecido a destruição da vila e o aniquilamento da Igreja de Montaud, em Forez."
Este texto foi extraido do Livro
""Os Montandon de Minas Gerais""
de José Dagualberto Borges



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